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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cibercultura

Pierre Lévy lança uma hipótese de que o crescimento do ciberespaço nos indica alguns traços essenciais de uma cultura que deseja nascer. Veja que momento nós estamos presenciando na história: o nascimento de uma cultura.

Nesse sentido, Lévy aponta como principal evento cultural do ciberespaço a desconexão entre universalidade e totalização, porque é possível compartilhar o mesmo contexto. A interconexão globalizada surge como uma forma do universal. Por que Lévy fala em universal e não global? Porque segundo ele a idéia do universal está colada na idéia de humanidade.
Penso que aqui existe uma questão importante para discutir em relação à importância do nascimento dessa cultura: a cibercultura.
A cultura, entendida como um espaço no qual diferentes grupos sociais “brigam” por legitimar suas significações, é um jogo de poder. Poderia então a cibercultura mudar “as regras desse jogo de poder”?
Quando pensamos na liberação do pólo emissor, diferentemente das mídias de massa, também podemos pensar que a web 2.0 contribui para o entendimento de que não existe uma hierarquia entre as culturas humanas, sendo a cibercultura um espaço de diálogo, muito mais do que um espaço de tolerância, como proclama o multiculturalismo, pois todas as culturas são equivalentes do ponto de vista epistemológico e antropológico.
Alinhavando essas idéias com outras discussões já estabelecidas, podemos então pensar que a cibercultura instaura uma nova pragmática da comunicação? Ela altera nossa concepção de racionalidade?
Nesse contexto do pós-moderno, trazido no artigo Educar em nosso tempo: desafios da teoria social pós moderna, o professor Marco Silva esclarece: “na ação comunicativa está o aprimoramento da noção moderna de emancipação. Portanto resgatar o projeto moderno é, acima de tudo, saber dialogar com a constelação de opiniões sem nos perdermos no espetáculo caótico das interpretações e das performances. Resgatar o projeto moderno é saber lidar com a natureza humana concebida como capacidade de relações discursivas e como pluralidade de vozes, onde a palavra mais do que nunca, está prenhe de razão emancipatória anunciando o futuro em aberto.”
Seria o pensamento pós-moderno o pensamento do coletivo? Seria esse um paradoxo?
Lévy afirma que “não há nenhum absurdo em conceber a participação, no pensamento, de mecanismos ou processos não biológicos, como dispositivos técnicos ou instituiões sociais, elas mesmas constituídas de coisas e de pessoas... Não há mais paradoxo em pensar que um grupo, uma instituição, uma rede social ou uma cultura, em seu conjunto, “pensam” ou conheçam. O pensamento já é sempre a realização de um coletivo.”
Retornando ao livro Cibercultura, Lévy fala de um universal sintonizado com a filosofia das luzes, porque está encharcado de humanidade. O ciberespaço é universal não porque está em toda parte, mas porque sua forma envolve o conjunto dos seres humanos.
Logo em seguida Lévy traz a questão do surgimento de uma nova ecologia das mídias e apresenta um paradoxo: quanto mais universal menos totalizável. Aí podemos então retomar a idéia de cultura, trazida anteriormente, pois temos que aceitar a idéia de perda de uma determinada forma de predomínio, e pensar numa equivalência. O ciberespaço é o espaço da diversidade humana. Nesse sentido, Lévy cita Jean-François Lyotard, através da expressão de que a pós-modernidade proclama o fim das grandes narrativas totalizantes, mas chama a atenção para um equívoco: a filosofia pós-moderna confundiu o universal e a totalização.
Então o que é o universal? Segundo Lévy é a presença virtual da humanidade em si mesma. E a totalidade, um sentido de pluralidade.

Podemos pensar agora a discussão partindo do movimento social da cibercultura?

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