O artigo escrito teve por objetivo discutir os conceitos de interatividade a partir da perspectiva de Marco Silva e dos conceitos de interação mútua e interação reativa de Alex Primo.
A idéia de interatividade está presente em quase tudo que nos cerca hoje. A TV é interativa, o brinquedo é interativo, o rádio é interativo, o aparelho eletrônico é interativo, como se o que não fosse interativo carecesse de um valor agregado. É um slogan, que funciona tanto na indústria quanto na academia. (PRIMO, 2000). A interatividade está na moda, pois muitos são os seus usos.
Sem a pretensão de buscar uma definição para o conceito de interatividade, o presente artigo pretende dialogar com as concepções de interatividade de Alex Primo e Marco Silva, apontando os fundamentos da teoria da interatividade e sua transposição para a docência online, abordando as diferenças entre interação e interatividade, relacionando-os ao conceito de interação mútua e interação reativa.
Segundo Silva (1998), o conceito de interatividade é recente, posterior ao conceito de interação, que vem da física, tendo sido incorporado por outros campos do saber e, no campo da informática, designa-se por interatividade. A ideia de interatividade vem de encontro a uma nova dimensão conversacional da informática, traduzida por uma bidirecionalidade.
O Conceito de interatividade, Segundo Silva (1998), vem da pop art, caracterizada pela fusão sujeito-objeto, como por exemplo os parangolés de Hélio Oiticica, onde o espectador interfere, modifica e co-cria a obra com o artista.
Nesse sentido, o conceito de interatividade vai para além do conceito de interação, onde existe uma separação entre quem emite e quem recebe a mensagem. O conceito de interatividade transcende o conceito de interação, pois não há uma separação em pólo emissor e pólo receptor, já que a mensagem numa dimensão interativa não está restrita à emissão.
Segundo Kerckhove (2009), assistimos a uma integração tecnológica a três níveis. O primeiro seria interior, onde há uma hiperconcentração e aceleração de poder computacional; o segundo, exterior, onde se dá a padronização das redes de telecomunicações internacionais e finalmente, interativa, onde se dá a interatividade biológica homem/máquina no ciberespaço.
Quando ocorre essa interatividade a que se refere Kerckhove, participação, bidirecionalidade e potencialidade-permutabilidade estão presentes, permitindo uma navegação livre, autônoma, sem direção pré-definida. Esses seriam os fundamentos da teoria da interatividade que, transpostos para a docência online poderiam se traduzir pela construção de uma obra coletiva, não mais centrada na figura do professor/emissor, mas também centrada no aluno/receptor.
A proposta de estudo de Primo (2000) para o conceito de interatividade está baseada na diferenciação que estabelece entre o que é interativo e o que é reativo. Um sistema interativo trabalha com a autonomia, enquanto um sistema reativo trabalha com um grupo de possibilidades de escolhas. No caso de um sistema interativo, pode-se dizer que existe um diálogo, a comunicação está fundada na troca. Assim, uma relação reativa não pode ser entendida como interativa.
Partindo dos conceitos estabelecidos de interativo e reativo, Primo apresenta dois tipos de interação: mútua e reativa, diferenciando-os a partir das seguintes dimensões: sistema, processo, operação, fluxo, throughput, relação e interface.
Resumidamente, poderíamos dizer que interação mútua caracteriza-se por um sistema aberto, voltado para a evolução e desenvolvimento; com relação ao processo, se dá através da negociação, não podendo ser previsto; cada agente influencia o comportamento do outro, havendo uma constante transformação; no processo de throughput, o input é afetado de uma forma tal, que o output não pode ser previsto totalmente; quanto ao fluxo, ocorre de forma dinâmica, não-linear; a relação se utiliza da construção negociada e, finalmente quanto à interface, sistemas interativos trabalham com diversas virtualizações.
A interação reativa caracteriza-se por um sistema fechado, com relações lineares e unilaterais; com relação ao processo, resume-se à estímulo-resposta, com pouca liberdade; os agentes estão fechados na ação e reação, há uma hierarquia estabelecida; no processo de throughput, o diálogo ocorre de forma mecânica e pré-estabelecida, como mero reflexo; o fluxo ocorre de forma linear e pré-determinada; a relação é causal, pressupõe uma sucessão de processos, onde um é causado pelo outro e, no que diz respeito à interface, os sistema reativos apresentam uma interface potencial, um conjunto de possíveis.
Após um breve olhar sobre os estudos de Primo e Silva acerca dos conceitos de interatividade, interação mútua e interação reativa, podemos perceber uma aproximação entre o que é interatividade para Silva e o que é interação mútua para Primo, ficando a interação reativa como um processo no qual não existe, como nos demais, a possibilidade de co-criação.
Referências
PRIMO, Alex. Interação mútua e reativa: uma proposta de estudo. Revista Farmecos. Jan. 2000, n.12, p. 81-92.
SILVA, Marco. Que é interatividade. Boletim técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, maio/ago. 1998. p. 27-35.
KERCKHOVE, Derrick de. A pele da cultura: investigando a nova realidade eletrônica. São Paulo: Annablume, 2009